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CARNAVAL
 

esse foi o início e sempre o é:

anotações gráficas
DESENHO
como ponto de partida e anotação programática de uma nova etapa:
desde os primeiros 
de expressionismo fluente já antecedendo as máscaras -CARNAVAL q funcionam como forma de revelação da OPINIÃO 65: 
começo da trilha em q
DESENHO é planejamento e recolhimento de material bruto recolhido e posto em estado bruto: segundo ele mesmo é memória e projeção: o cigarro que queima fumaça de cor expressionista que acaba no desenho como foto-decalque da infância: um outro q já projeta decalque de foto-CARNAVAL: anotação e antecipação: cerne-espinha do q vem a explodir em seguida em forma de projetos maiores: não considerá-los por isso mesmo menores: continuarão a emergir e o devem: 
pré-vêem: (p. 07) 

[...] assim como os envelopes p.ex. parecem continuar abertos na previsão de projetos nascentes: há um em q sobre o quadriculado a lápis sobre o cartão preto as perfurações circulares que desenham o envelope se contraem e retraem revelando o espelho preto por trás (q aliás só é notado com o deslocamento do espectador e não é visto quando este o encara frontalmente): não seria esse desenho já uma antecipação dos caramujos e dos grupos-CARNAVAL?:
DESENHO:
começo e fluir contínuo que alimenta a atividade recolhida de projetar: alimentar projetos q vêm a soltar aquilo q há de mais particular e ao alcance da mão possível: os carinhos do recolhimento ainda no berço da evolução da “arte moderna” brasileira pode-se dizer que seja “modernosa”: o conceito de modernidade liga-se sempre ao de “novo” formal: portinari pintava academicamente e depois tecia colcha de retalho “cubista” no “fundo” e na “figura” – já tarsila, pintora de verdade, criou sua obra consumindo-a numa espécie de maneirismo modernoso-antropofágico, o que longe de ser nela um defeito, se nos apresenta até hoje como o melhor exemplo dos “movimentos modernos” pré-concretismo aqui (excetuando o “caso” Volpi) – o decorativismo formal brasileiro, a consciência dele, são inerentes às nossas criações; salutar; mesmo numa artista que sempre primou pela consciência e pela objetividade estrutural, como lygia clark, em suas fases iniciais (neoconcreto e sua consequência: o bicho), possuía essa dose forte modernosa – vergara leva esse impulso de decorar às consequências últimas, no momento, aqui; recortar, como cenários para um ambientação caligariana – recortar paisagens-folhagens – recortar-aparar-juntar – papel-pardo, papelão – criar o módulo : retângulo formado por dois quadrados cujos diagonais sulcam; um lado desdobra no “double” do retângulo, fazendo então 4 sulcos diagonais que se encontram no centro do todo; diagonais e encontros dos quadrados são sulcos-força; esses sulcos são articulações tão tensas e resistentes quanto o material : com grampões podem-se juntar em sistemas, conjuntos, buildar : à vontade como se o espaço fora (e o é) o campo aberto ao jogo; ao decorativo; joy lúdico; esses módulos sintetizam todas as tentativas de vergara, e propõem outras – são o meio-caminho, não o (ou um) fim; medula e osso; entranhas do espaço; toy. (p. 09 e 16) 

vergara não fundiu a sua cuca, nem a tua, nem a minha, mas quer q pensemos, que amemos através do seu trabalho sem drama, nem trama, alegre e vital como ir à praia, tomar um sorvete, namorar, passear nos espaços abertos, nos significados a q submete tudo o q quer dizer, objeto significante q não é agradável mas comunicante – objetosignocomunicante, estrutura aberta, possibilidade única de dar, recriar, deglutir, comer a “mensagem” q não só ele mas todos nós podemos e devemos criar, criar para agir – (p. 19)

vergara constrói caixas não requintadas, puro papelão, papelão bandeira, bandeiramonumento, brasília verdeamarela, mas papelão, que se encaixa, na caixa, na sombra e na luz, no cheiro – é a secura das fábricas, sonho de morar, viver o fabricado pré-consumitivo, antes de ser às feras atirado – seca, viva, a estrutura é cada vez mais aberta – ao tato, ao pensar, à imaginação q morde, demole, constrói o brasil, fora e longe do conformismo porque assume uma estrutura viva, não admite a ortodoxia q já está morta como nasceu – o artista vive e dá e a multiplicação das bandeiras são pensamentos para pensar ou abrir espaços cavados, cenários tão imprevisíveis quanto os acontecimentos – da vida interna e do mundo. (p. 21)

vergara da bolha desenho, das entranhas primeiras expressionistas, talento da linha-cor-espaço, quer q o berço esplêndido se transforme no espaço e no tempo porque sabe q ‘aplicar a mensagem’ não dá pé – é ela também uma estrutura, não estruturarte mas estrutura aberta, coisa viva se se é vivo (p. 23)

os super-desenhos crescem das caixas-estruturas-cenários caligarianos : espalham-se pelo chão, desenham-se-recortam-se : folhagens de papel barato : moitam-se-desgarram-se : invadem, por seu turno, o ambiente – colher os cantos-recantos brasis que os teóricos academizantes não conseguem : brasil sensível, não cultural – tudo terá que desembocar fatalmente em estruturas mais gerais, em proposições que crescem em ambição : em algo que seja mais importante que galerias ou museus : que prescinda delas para a sobrevivência – a consciência de que essa face pra ser face, deva ser exportável, assim como o fizeram os americanos (warhol, p.ex., mais do que oldenburg, que se resume mais a uma “imagem-américa” – warhol realmente criou o que se poderia chamar de face-américa) – tirar do saco o que deve ser tirado, o que interessa – vergara quer ser a consciência vigilante dessas instân (cias) (tes), mais geral que a moda e a forma : o lugar e o tempo, só cabem a ele construir : e ambos são fundamentais aqui : a busca do tempo-lugar perdidos no subdesenvolvimento-selva : as perguntas, as respostas, as questões : validade delas : de onde abordar a conceituação de valor? 
nem a “arte” nem a “cultura” importam aqui : muito mais : o comportamento como uma forma viva das opções criativas – vivatuante, vigilante : uma consciência. (p. 25)

vergara quer construir em bloco uma instância : o instante brasil – a face – mesmo que para isso tenha que se apegar aos restos, às proposições antigas, que aparecem aqui para formar este bloco : sua facilidade em desenhar, em decorar, recortar, enriquecer o ambiente, etc.; não interessam aqui coisas como “mensagens” anedóticas, sem eficácia : a ambição de criar esse bloco-face brasil absorvendo tudo, deixando de lado certos pudores esteticistas; nisso reside sua coerência: ir ao final, sem sobras. (p. 27)

vergara leva esse decorativismo à decoração : são lindas : desdobramento ambiental dos “painéis” de outrora, matéria da qual o brasil é campeão-quantidade : bancos, sedes de indústria : a da varig está sendo construída : placas de metal que se aconcavam espelhadas e refletem o ambiente : cresce, transparenteia-se : essas experiências ligadas diretamente a algo atuante, ao ambiente-uso, parecem enriquecer suas proposições : que são sempre instâncias da fundamental, nele : criação de uma face-brasil (sem qualquer prisão de ventre nacionalista) : resenha (sem culturalismo) do antes, do agora, do que deva ser : busca do prazer : de fazer, brincar, decorar. 

NO CARNAVAL: 
inversão do comportamento:
ostentação da sexualidade feminina q se
torna travestida de agressividade
a mão q abre os seios de silicon
as cabeças com o relógio da CENTRAL na 
poça de latas de cerveja
gente vista pela trama da porta da garagem
na rua: o desfile e a plateia muda q
se reveza
a palavra PODER escrita no preto da pele 
do corpo
BANHO DE MAR À FANTASIA DO ALBINO

NA COSMOGRAFIA ANOTADA NO PAPEL:
as cabeças-máscaras em branco à espera da identidade:
máscaras e purpurina
caramujos e os blocos-espaços no papel:
concentração urbis/sub-urbis
trama rompida: a trama quadriculada q se
rompe na máscara
os brasis invertidos no rompimento da 
trama-desenho
VAN DONGEN TROPICALIZADO DO COMERCIAL DO CARNAVAL:
a mulata do olho muito louco

CAOS e FORMAÇÃO EM MASSA:
o apanhado da câmera no foco desfocado
do rodar do corpo da saia dos lances das
mãos e das pernas pés na multidão
sambante a formação do bloco:
identidade-bloco

PÉS
PANORÂMICAS DO CORPO EM DANÇA
PERUCAS E CHAPÉUS
CABEÇA-IDENTIDADE:
da maquilagem-esparadrapo
ao travestimento de silicon
VERGARA NA RUA-CARNAVAL:
a cabeça-fantasia individual
os pés q batucam a geral

a cabeça 
a máscara: o recorte da cabeça q está
em aberto para receber a máscara
mascarar-se: escolher identidade

os caramujos:
no branco infinito do papel os
caramujos (q repetem o geral: iguais no 
todo) se agrupam em signos:
culmina com

das fotos do CACIQUE CARNAVAL DE RUA
às signografias dos caramujos:
o processo-bloco dessa trajetória
vergaresca

CACIQUE DE RAMOS
IGUAL DIFERENTE
VERGARA no CACIQUE: da experiência de
sair com o bloco às fotos em q a câmera 
é olho-câmera e não olho-homem: VERGARA
não fotografa o q o olho vê mas usa a 
câmera como quem usasse mão boba: o
foco é feito pela distância da câmera
ao objeto e não pelo olho do fotógrafo:
ela samba e mexe com as passistas: ela
olha por baixo debaixo
VERGARA -CACIQUE:
iguais no todo
diferentes todos

Hélio Oiticica

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